Malu, faz quatros dias que a mamãe chegou em casa. Estava do mesmo jeito que deixamos. Só o cachorro meio malucão de saudade. Como você disse que ele ia estar. As flores morreram. Ou secaram e vão renascer um dia. Não dá para saber ainda. O resto tá meio bagunçado. Não desfiz a mala ainda, não arrumei a cama, não joguei o lixo fora. Eu não fiz compras. Eu não lavei a roupa. Mas eu parei de beber. E olha que tem cerveja na geladeira. E vinho também. Eu não durmo direito sem você aqui. Seu lado da cama vazio, seu livro de histórias no chão, seu medo longe. Daí que a mamãe tá colocando a playlist rock n roll em dia. Querendo pintar mas os pincéis estão destruídos. Foi você, né? Estou caminhando. O carro sujo cheio de tralhas está ficando mais na garagem. A mamãe viu um pôr-do-sol lindo na sexta-feira. O céu está lindo. Mas o resto não. Tá tudo meio seco, como aí. Aquele desespero está chegando outra vez.O agosto maldito e sua secura. O bom é que a mamãe não está triste como ante...
Cheguei atrasada em casa, corri tomar um banho. Debaixo do chuveiro escutei o celular tocando duas vezes. Corri vestir uma roupa, estava terminando de passar um batom, peguei o celular e tinha uma única mensagem. Dele. Dizia: a Tereza morreu. Isso faz dois anos. Depois daquela semana nunca mais nos falamos. Era ela o nosso elo. Indesejado, vale lembrar. Mas valia a pena. Tereza foi a parte mais doce da minha vida. Até hoje.
Hipoteticamente era para chover pelo menos uma chuva por mês. Hoje, marca o quadragésimo oitavo dia sem chuva. Estava sentado na cama, abaixado, amarrando o cadarço do tênis e tentando evitar que o sangue escorrendo do nariz o sujasse. Uma gota foi inevitável. Deveria ser umas quatro da tarde. Perdeu o relógio outra vez. Fechou a casa sem cerimônia, sentou na calçada suja e esperou. A rua quase deserta estava movimentada aquele dia. Carros da polícia seguiam em direção a uma grande construção abandonada no final do bairro. Não demoraria. Ou demoraria, sempre chegava atrasada, esbaforida dizendo que estava resolvendo um monte de coisas. Um vento varreu as folhas na rua e fez subir uma nuvem imensa de poeira. Lembrou que escutara no telejornal que estava pra chegar uma frente fria. Mas sem chuva. Ela chegou quase uma hora depois do combinado e como sempre esbaforida. Não escutou nada do que ela falava no curto trajeto entre um bairro e outro, cruzando uma avenida. ...
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