Malu, faz quatros dias que a mamãe chegou em casa. Estava do mesmo jeito que deixamos. Só o cachorro meio malucão de saudade. Como você disse que ele ia estar. As flores morreram. Ou secaram e vão renascer um dia. Não dá para saber ainda. O resto tá meio bagunçado. Não desfiz a mala ainda, não arrumei a cama, não joguei o lixo fora. Eu não fiz compras. Eu não lavei a roupa. Mas eu parei de beber. E olha que tem cerveja na geladeira. E vinho também. Eu não durmo direito sem você aqui. Seu lado da cama vazio, seu livro de histórias no chão, seu medo longe. Daí que a mamãe tá colocando a playlist rock n roll em dia. Querendo pintar mas os pincéis estão destruídos. Foi você, né? Estou caminhando. O carro sujo cheio de tralhas está ficando mais na garagem. A mamãe viu um pôr-do-sol lindo na sexta-feira. O céu está lindo. Mas o resto não. Tá tudo meio seco, como aí. Aquele desespero está chegando outra vez.O agosto maldito e sua secura. O bom é que a mamãe não está triste como ante...
(...) Tereza era tão metódica pra lavar louça que mais parecia um ritual. Deve ser porque gostava. Nunca havia um copo sujo na pia. E assim que terminava o almoço lavava tudo antes de dormir seus 20 minutos diários antes de ir trabalhar. A casa de Tereza não era necessariamente limpa e organizada. Eu já vi roupas sujas penduradas no sofá. Aos domingos nunca fazia a cama.Tinha um gato velho, muito velho, que deixava umas bolinhas de pelo nos cantos. Acontece que ela nunca lavou as cortinas. Mas vivia falando que ia fazer. Com o tempo eu achava até graça. Mas a cozinha era um santuário. A pia um altar. Nunca me explicou essa obsessão. Tereza tirava os sapatos e deixava na porta todo dia. O gato dormia em cima. Abria a janela da sala e fumava um cigarro. Vez ou outra fazia um café. Do meu ponto de vista eram todos rituais sagrados. Eu era uma observadora religiosa de cada um deles. E o tempo me deixou a lembrança nítida de tudo. Eu não lavo a louça assim. Pensei que depois de tudo ...
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